quarta-feira, 24 de junho de 2009

Ludicidade, não é brinquedo não!

Ludicidade, lúdico, brincar, brincadeira, mas que consciência ingênua acerca de um assunto tão importante para a educação, abrangente e encantador. Tão sério, que pode se tornar em mais uma estratégia de domínio, assim como as importantes instituições sociais e seus respectivos detentores do poder.
As dinâmicas devem ser usadas de forma objetiva e consciente, caso contrário passa pelo irreal. Criadas a partir do domínio do professor com o assunto ou com a disciplina por ele ministrada, pois não existe técnica. E se perder?... Se perder não tem prenda, pois a prenda é a evidência do erro, demonstra incompetência, afinal não existe prenda leve. O melhor é enxergar a ludicidade além do beco, do dia-a-dia, da mesmice do senso comum. E o que diriam os heterônomos e autônomos sobre a ludicidade? Os heterônomos pensam: “é lúdico, é brincadeira, não tem regras”, e isto será um alívio, porém estão enganados. O autônomo não terá problemas com regras ou normas e com esmero chegarão ao objetivo, afinal seu juízo moral compreende o que está estabelecido como regras morais. Vale salientar que as regras do jogo são decididas pelos participantes. O jogo não controla os jogadores. De acordo com Tizuko Kishimoto: “o jogo vincula-se ao sonho, à imaginação, ao pensamento e ao símbolo”. Ela diz que o homem como ser simbólico, que se constrói coletivamente e cuja capacidade de pensar está ligada à capacidade de sonhar, imaginar e jogar com a realidade é fundamento para propor uma nova “pedagogia da criança”. A autora vê o jogo como algo que torna o “homem” realmente humano. Jogo desenvolve habilidades sensoriais, motoras e a assimilação do conteúdo em sala de aula.
Autonomia, juízo de valor, lembra formação continuada do professor. Sem esta forma de capacitação e renovação do conhecimento, a tendência é cair no “jogue duro com esta turma” porque é a pior da escola, no autoritarismo insensato e incessante, que amedronta o sujeito, bloqueando as suas oportunidades de crescimento. Como se pode perceber nestes depoimentos de dois alunos:” Minha professora nos diz gritando que não gritemos. Eu, há um ano ou dois não gritava como agora, mas como as professoras gritam conosco, e nós atendemos afinal, nos acostumamos a que gritando se consegue a ordem e as coisas, como por exemplo, que te preste atenção tua irmã ou outra pessoa, sem ter que explicar-lhe nada.” (Maria Sol, 9 anos). “Cheguei na escola e ninguém me escutava. Preferi não ser ouvido a ter que gritar como todos, porém não sei quanto vou agüentar, tenho medo de terminar como eles.” (Eduardo, 15 anos. Primeiro dia de aula. ( Fernández, Alicia. Inteligência aprisionada,1991). Quando se fala em formação continuada, entenda-se que o conhecimento possibilita repensar a realidade e enxergar as perspectivas de mudança, por isso se faz necessário. Infelizmente alguns professores são acometidos pela debilidade psicomotora que caracteriza-se pela presença da paratonia ou rigidez muscular, permanecendo estagnados sob os retrógrados conceitos da educação, em que o educando é mero ouvinte copista e o professor o provedor e detentor do conhecimento. Porém os ventos trazem uma nova geração de pedagogos movidos pela eutonia uma proposta de vida que busca harmonia e equilíbrio para o ser humano, e que permite a otimização das ações e sua execução com o mínimo de esforço. Que todo gesto e todo movimento seja comunicado em sintonia com o esquema corporal, em prol de melhores dias para a comunidade escolar.
Para Vigotsky, o(s) conceito(s) científico(s) são aprendidos em ambiente escolar como parte de um sistema de conhecimento e sua aprendizagem se faz de forma consciente. Já os espontâneos, são os que a criança aprende no decorrer da vida, porém esta aprendizagem não é feita de forma consciente. Porém estes conceitos não podem ser vistos de forma separada, porque o acúmulo de conhecimento leva a um aumento no nível científico, que por sua vez, influencia no desenvolvimento dos conceitos espontâneos. Isso demonstra que a escola é um grande condutor na aprendizagem e no desenvolvimento.
Neste momento de consciência crítica, vê-se quão valioso é investigar e aprofundar-se no conhecimento sobre este tema. Graças a Maiêutica Socrática, sai-se da idéia de Ludicidade sinônimo de brincadeira, para uma vasta área de conhecimento e potencial “Psicossomático didático”. Psicossomático sim, pois segundo Luckesi “Brincar, jogar, agir ludicamente, exige uma entrega total do ser humano, corpo e mente, ao mesmo tempo. O fenômeno da ludicidade foca a experiência lúdica como uma experiência interna do sujeito que a vivencia. Comumente se pensa que uma atividade lúdica é uma atividade divertida. Poderá sê-la ou não. O que mais caracteriza a ludicidade é a experiência da plenitude que ela possibilita a quem vivencia em seus atos. É um fenômeno interno no sujeito, que possui manifestações no exterior” (Luckesi). Didático, porque se manifesta como uma arte para ensinar, sendo assim, contribui para a transformação do sujeito. Alguns autores vão mais longe afirmam que todo este percurso deve ser dirigido pelo amor, pela afetividade. O amor não é contrário ao conhecimento e pode tornar-se lucidez, necessidade de compreender, alegria de aprender, de descobrir. De acordo com Mauco (1986) “a educação afetiva deveria ser a primeira preocupação dos educadores, porque é ela que condiciona o comportamento, o caráter e a atividade cognitiva da criança”. Outros autores referem que os atos de sentir, pensar e decidir pressupõe um trabalho conjunto das dimensões cognitivas e emocionais do cérebro. Essa ligação entre os processos emocionais e racionais é salientada entre outros por Goleman, que desenvolve o conceito da inteligência emocional e diz que aprendemos melhor os assuntos que nos interessa e nos dão prazer.
Pode-se pensar na ludicidade como o orgônio da Pedagogia, pois possuem algumas características comuns, como: têm caráter organizador, harmonizador, evolutivo, agregador e auto-regulador, proporcionando assim desenvolvimento no sujeito. A ludicidade tem outra grande característica, um jeito especial de entrar no sistema de significação do sujeito, sem a impressão de invasão, o que, para pedagogos e para quaisquer áreas organizacionais, abre grandes possibilidades para a intervenção. Então, que o freio inibitório dos pedagogos esteja ligado na ludicidade como arte de fazer acontecer novas perspectivas, mudanças de atitude e respeito entre o mediador e o sujeito cognoscente, e como disse o profº Antonio Bahia, no início do semestre: “Não podemos deixar que a nossa ansiedade fique acima do nosso compromisso pedagógico”. A situação evolutiva deste jogo tem que continuar baseada na sua organização evolutiva e sua ruptura. Sem o comando que aliena, todavia com o enunciado que LIBERTA.
No universo tudo passa por um processo, isto também acontece com relação à educação e paciência é sinônimo de sucesso.
“CONTE-ME E EU VOU ESQUECER, MOSTRE-ME E EU VOU LEMBRAR, ENVOLVA-ME E EU VOU ENTENDER"

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